quinta-feira, 14 de agosto de 2008

UM PEQUENO OLHAR SOBRE O MEU PAÍS

É francamente deprimente olhar bem para este país e ver o estado a que chegou. País onde, se sonhos houveram, hoje todos eles se esboroam dando lugar a um descrédito sem precedentes, gorando a esperança dos ventos de mudança que os sucessivos governos pós 25 de Abril nos vêm prometendo e, se até então, este país estava cativo por poucas dezenas de famílias, devidamente referenciadas, de alguns anos a esta parte tem sido um regabofe. As fortunas aumentaram substancialmente, disseminando-se por uma avalanche de novos-ricos, cuja origem, em muitos casos, é duvidosa e sem que se lhes investigue a proveniência.
A justiça, a educação e saúde estão um verdadeiro caos; os criminosos gozam de certa impunidade, nas escolas ninguém se entende, e a saúde está cada vez mais doente, sendo cada vez menos um direito dos cidadãos porque, regida por princípios economicistas, coíbe o fim social e humano que lhe deveria estar adstrito.
Os tempos mudaram e, inevitavelmente, os homens também; só que para pior e todos nos questionamos onde, a continuar assim, vamos chegar. Somos um país sem esperança, um povo triste e sistematicamente mal governado. A verdade é que nos deixámos de respeitar no colectivo; que somos cada vez mais egocêntricos, indiferentes e apáticos. E pergunto-me se é lícito ter uma visão tão derrotista do presente. Eu concluo que é!
É porque não se perspectivam melhorias ao estado a que as coisas chegaram e não será com este governo, que tirou o socialismo da gaveta, onde Mário Soares o tinha guardado e, com a maior das leviandades, lançou-o literalmente no caixote de lixo da história. Nem tão pouco será com esta oposição feita de silêncios e partilha de interesses que podemos esperar que as coisas se alterem significativamente.
Só o governo teima e acredita (???) na superação da crise, mas o país continua paralisado. Que o digam os pequenos e médios industriais e comerciantes, que se vêem confrontados no presente com dificuldades seríssimas, com os seus negócios cada vez mais comprometidos e as falências a aumentarem em flecha, interrogando-se constantemente se vão aguentar-se e até quando. Que o digam as famílias cada vez mais endividadas que vivem num sufoco angustiante sem fim à vista, às quais a qualidade de vida tem vindo a diminuir assustadoramente, podendo mesmo dizer-se que a classe média está em vias de extinção. Estamos a caminhar a passos largos para nos tornarmos um país onde só existem os muito ricos e os muito pobres. No meio ficará o deserto.
Que o digam a nova onda de emigrantes que a exemplo dos idos anos sessenta, se vêem forçados a abandonar o país, tendo de procurar longe das famílias e dos seus lares o que este lhes nega. Que o digam os estudantes cada vez mais confundidos, sem perspectivas de futuro e sem saídas profissionais. Que o diga a juventude em geral, sem um futuro promissor, a quem tudo se lhe apresenta cada vez mais difícil. Que o digam os doentes e os trabalhadores da saúde, do tempo de espera para obter uma consulta ou uma intervenção cirúrgica e da qualidade das urgências e dos internamentos hospitalares. Que o digam os trabalhadores no desemprego ou os que, todos os dias, vivem constrangidos com o seu espectro e que o digam os reformados que têm de sobreviver, a maioria, em condições sub-humanas excluindo, claro, uns quantos que pelos “bons serviços” prestados são premiados principescamente com reformas de luxo e outras mordomias.
Como dizia Victor Hugo: «Não é um problema ser um país pequeno. Mas é um tremendo problema ser governado por homens pequenos.» E dizia, ainda: «O inferno dos pobres faz o paraíso dos Ricos».

2 comentários:

Anónimo disse...

Claro, objetivo, esclarecedor...
Me passou um panorama realistico desse país tão lindo que é Portugal, só tú na infinita inteligencia e sensibilidade foi capaz de desenhar tão bem esse quadro atual.

Unknown disse...

Olá.
Gostei demais deste teu texto.
É bom abanar mentes e assentos cómodos.
Tens uma escrita bem estruturada e de fácil compreensão.
Contimua, intervenções destas são sempre bem vindas.
Um beijo amigo.
Liliana Josué