
A justiça, a educação e saúde estão um verdadeiro caos; os criminosos gozam de certa impunidade, nas escolas ninguém se entende, e a saúde está cada vez mais doente, sendo cada vez menos um direito dos cidadãos porque, regida por princípios economicistas, coíbe o fim social e humano que lhe deveria estar adstrito.
Os tempos mudaram e, inevitavelmente, os homens também; só que para pior e todos nos questionamos onde, a continuar assim, vamos chegar. Somos um país sem esperança, um povo triste e sistematicamente mal governado. A verdade é que nos deixámos de respeitar no colectivo; que somos cada vez mais egocêntricos, indiferentes e apáticos. E pergunto-me se é lícito ter uma visão tão derrotista do presente. Eu concluo que é!
É porque não se perspectivam melhorias ao estado a que as coisas chegaram e não será com este governo, que tirou o socialismo da gaveta, onde Mário Soares o tinha guardado e, com a maior das leviandades, lançou-o literalmente no caixote de lixo da história. Nem tão pouco será com esta oposição feita de silêncios e partilha de interesses que podemos esperar que as coisas se alterem significativamente.
Só o governo teima e acredita (???) na superação da crise, mas o país continua paralisado. Que o digam os pequenos e médios industriais e comerciantes, que se vêem confrontados no presente com dificuldades seríssimas, com os seus negócios cada vez mais comprometidos e as falências a aumentarem em flecha, interrogando-se constantemente se vão aguentar-se e até quando. Que o digam as famílias cada vez mais endividadas que vivem num sufoco angustiante sem fim à vista, às quais a qualidade de vida tem vindo a diminuir assustadoramente, podendo mesmo dizer-se que a classe média está em vias de extinção. Estamos a caminhar a passos largos para nos tornarmos um país onde só existem os muito ricos e os muito pobres. No meio ficará o deserto.
Que o digam a nova onda de emigrantes que a exemplo dos idos anos sessenta, se vêem forçados a abandonar o país, tendo de procurar longe das famílias e dos seus lares o que este lhes nega. Que o digam os estudantes cada vez mais confundidos, sem perspectivas de futuro e sem saídas profissionais. Que o diga a juventude em geral, sem um futuro promissor, a quem tudo se lhe apresenta cada vez mais difícil. Que o digam os doentes e os trabalhadores da saúde, do tempo de espera para obter uma consulta ou uma intervenção cirúrgica e da qualidade das urgências e dos internamentos hospitalares. Que o digam os trabalhadores no desemprego ou os que, todos os dias, vivem constrangidos com o seu espectro e que o digam os reformados que têm de sobreviver, a maioria, em condições sub-humanas excluindo, claro, uns quantos que pelos “bons serviços” prestados são premiados principescamente com reformas de luxo e outras mordomias.
Como dizia Victor Hugo: «Não é um problema ser um país pequeno. Mas é um tremendo problema ser governado por homens pequenos.» E dizia, ainda: «O inferno dos pobres faz o paraíso dos Ricos».
2 comentários:
Claro, objetivo, esclarecedor...
Me passou um panorama realistico desse país tão lindo que é Portugal, só tú na infinita inteligencia e sensibilidade foi capaz de desenhar tão bem esse quadro atual.
Olá.
Gostei demais deste teu texto.
É bom abanar mentes e assentos cómodos.
Tens uma escrita bem estruturada e de fácil compreensão.
Contimua, intervenções destas são sempre bem vindas.
Um beijo amigo.
Liliana Josué
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