terça-feira, 18 de novembro de 2008

ESTA LISBOA QUE EU AMO!

Na minha qualidade de “alfacinha de gema” não poderia ficar indiferente a tudo quanto esta cidade tem sofrido, sofre e parece ter de continuar a sofrer, na sequência das controversas politicas de ordenamento do território e dos PDM’s, responsabilidade do poder central e autárquico, que têm votado esta maravilhosa cidade à rapacidade dos interesses económicos, em detrimento do seu desenvolvimento estruturado, desaproveitando as suas imensas potencialidades naturais não proporcionando que esta seja, por excelência, não só agradável para todos os lisboetas e restantes portugueses, mas também uma majestática sala de visitas para todos quantos do exterior a procuram, estimulado dessa forma o orgulho de termos uma das mais belas cidades da Europa.
E, por ironia, perante mais um descalabro que decerto vai representar o projecto “Nova Alcântara”, eis que surge o movimento “Lisboa é das pessoas, mais contentores não!”, encabeçado por Miguel Sousa Tavares, que até é natural do Porto, apesar de obviamente esta lista ser compostas por muitos lisboetas.
É claro como água, que subscrevo inteiramente as posições deste movimento, não me revendo, com isto, em todas as posições de Sousa Tavares noutras matérias, para que não fique a ideia de que sou seu seguidor incondicional. Neste caso concreto estou do seu lado, porquanto estamos perante mais uma das decisões bastante “cinzentas” deste governo que, se já não estranho que teime em não ouvir o país, menos estranho que decida sobre Lisboa e, de forma costumeira, à revelia dos verdadeiros anseios e interesses da cidade e dos seus habitantes. Em causa está a ampliação do terminal de Alcântara, o prolongamento da concessão à Liscont por mais 27 anos e a triplicação da carga portuária que passará dos 350 contentores para cerca de um milhão. Recorde-se que a Liscont é uma empresa do grupo Mota-Engil, que tem como presidente executivo o ex-ministro do PS, Jorge Coelho e que esta negociação foi bilateral, não tendo havido nenhum concurso público para o efeito.
No passado dia 31, foi entregue ao Presidente da Assembleia da Republica, Jaime Gama, uma petição com cerca de 10.000 assinaturas, o que obriga a que o projecto seja apreciado no Parlamento e, paralelamente, a Procuradoria Geral da Republica (PGR) manifestou que está a analisar a questão face aos elementos que possui, podendo mesmo abrir um inquérito sobre este polémico projecto.
No programa “Prós e Contras” de ontem, é francamente inusitada e triste a defesa que José Sá Fernandes, o saudoso Zé, que foi um combatente acérrimo do túnel do Marquês, vem fazer agora desta obra megalómana que custará 180 milhões de euros aos contribuintes, e que pouco mais consegue dizer do que, ser uma luta sua de 20 anos a resolução e recuperação de todo o vale de Alcântara, como se essa sua posição justifique a sonegação da panorâmica do rio a que todos temos direito, que passe a ser atafulhado de contentores, que ocuparão uma frente de 1,5 km por 15 mt de altura, e escamoteie toda a nebulosidade de um processo que envolveu o Governo, a Lisconte e a Mota-Engil deixando-nos a sensação nítida de que se acomodou confortavelmente no seu lugar de vereador, deixando essas batalhas para outros, porque lugares destes não se arranjam todos os dias, mesmo que para os conseguir seja preciso vender a alma ao diabo.
A Secretária de Estado dos Transportes, Eng.ª Ana Paula Vitorino, esforçou-se para defender a posição do Governo, mas deixando por explicar alguns contornos do acordo feito com a Lisconte, depois de instada vária as vezes por Sousa Tavares, não tendo deliberadamente lido o nº 6 da clausula 14ª, que contem uma norma de estudo de impacte ambiental que não foi cumprida. Compreende-se!
Eduardo Pimentel, presidente do Conselho de Administração da Liscont, nada disse de especial e também não era isso que se esperava, defendendo apenas a óptica e os interesses da empresa a que preside. Compreende-se!
O Dr. Pedro Amaral de Almeida, autor do contrato, apresentou as suas justificações meramente jurídicas do ponto de vista contratual, fazendo a defesa do que está feito. Também se compreende!
Outros intervenientes colocaram alguns pontos vistos de ordem técnica, tendo o professor Fernandes Nunes da Silva aduzido uma serie de razões que diz anularem a justificação e a premência desta obra. O presidente do LNEC não se manifestou no sentido da sua necessidade ou não, respondendo que se limitava aquele laboratório a fazer um estudo que lhe foi encomendado e só se poder manifestar sobre essa matéria.
Agora, um bocado surpreendente, foi mesmo a intervenção do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles de quem se esperava mais, tendo em linha de conta todo o seu historial de defensor de Lisboa. Foi bastante redutor e nada trouxe de interesse para o debate.
Lisboa, esta Lisboa que eu amo, já há muito tempo que está entregue à bicharada e não se perspectiva que lhe estejam reservados tempos melhores. Pior do que isto só Santana Lopes para presidente.
Poderemos até ter de nos confrontar com outro terramoto, mas nunca mais teremos um outro Marquês de Pombal!

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