
Emídio Rangel é jornalista e, como tal, devia observar o princípio deontológico da imparcialidade quando emite, com todo o direito, as suas opiniões. O que não deverá fazer é uma colagem explícita ao partido do governo e ao governo, não lhe tendo lido, nunca, uma única crónica em que apontasse o dedo aos muitos erros já cometidos pelo governo de Sócrates, saindo sempre em sua defesa como se este seja intangível.
Rangel tem todo o direito de ser simpatizante do P.S. e consequentemente deste governo. Pode e deve fazer as críticas que entender aos partidos, aos seus dirigentes e às acções destes. O que não pode (até parece que pode) é tentar manipular a opinião pública, aproveitando-se da sua profissão, sem que tenha a coragem de assumir publicamente as suas simpatias, e vir encapotadamente dar “umas mãozinhas” ao P.S. neste período que se pode considerar desde já, de pré-eleitoral.
Na edição de hoje do referido matutino, Rangel puxou as orelhas à “Tia Manuela” e posso mesmo concordar com ele nalguns passos da sua crónica. O discurso de Manuela Ferreira Leite foi realmente pobre e, estou convencido, não ter ido ao encontro dos que as bases e o eleitorado P.S.D. esperavam. Saliente-se no entanto que este é um problema interno do P.S.D. que se vê confrontado com a sua incapacidade de ser uma oposição credível a Sócrates e, a continuar nesta senda, muito menos poderá alimentar aspirações de ser alternativa nas próximas eleições.
Rangel chega mesmo ao ponto de dizer que Manuela Leite, com as suas declarações, o levou até ao vómito, mas exime de imediato o governo das suas culpas na segurança, da situação caótica da economia, das reformas no ensino, etc., etc., como se este esteja incólume das suas acções e mereça um aplauso geral.
Mais grave, Rangel insinua que «é preciso ter muita “lata” para continuadamente agir assim, deixando nas entrelinhas que a linha politica do P.S.D. tem a aprovação do Presidente da Republica» o que só contribui para empolar tendenciosamente as relações institucionais entre estes dois órgãos, já de si enfraquecidas pelos acontecimentos dos últimos tempos.
Rangel diz, e diz muito bem, que «os portugueses devem, com muito pragmatismo, verificar quem tem propostas, soluções, capacidade de agir, mesmo em períodos turbulentos como o que se está a viver». E a verdade reside em que os portugueses devem ponderar seriamente nas suas vidas que dependem dos seus actos e se o fizerem com toda a consciência, olhando para trás e fazendo um balanço de 34 anos de democracia, facilmente concluirão da falência dos partidos políticos e quem sabe não optarão pelo advento do voto em branco.
Rangel remata mesmo para fora quando falaciosamente afirma: «nenhuma culpa pode ser assacada ao Governo português, que foi apanhado por um “tsunami” que também cortou as pernas a países mais ricos e poderosos como a Espanha, a Grã-Bretanha, A França e a Alemanha» terminando com este desabafo; - «cheque em branco, não obrigado». Mas onde anda a cabeça de Rangel e o que nos pretende dizer com esta comparação acéfala, quando cita países com uma economia musculada, com uma organização politica assente no desenvolvimento social e portanto mais bem preparados para sair desta instabilidade internacional? Passou-lhe ao lado o facto de estarmos na cauda da Europa por culpa das governações desastrosas que temos tido, em que é sempre um “fartar vilania”, tendo sido ultrapassados rapidamente pelos países do leste europeu? Acorde e veja se consegue ver este país como o vêem a maioria; - os que sofrem e que talvez tenham algo em comum consigo: CHEQUE EM BRANCO, NÃO OBRIGADO!
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