segunda-feira, 15 de setembro de 2008

EMIGRAÇÃO vs IMIGRAÇÃO; - DUAS FACES DA MESMA MOEDA

Confesso que me incomoda sobremaneira as repetidas vezes que oiço falar, e cada vez mais, com uma frequência que começa a ser doentia, da culpabilização dos imigrantes no recrudescer da delinquência, tentando imputar-lhes a exclusividade deste fenómeno.
Incomoda-me por uma questão de lucidez, de coerência e, sobretudo, porque sendo nós um país com um razoável historial emigratório cumpre-nos a obrigação moral de atentar neste facto e fazer uma analise consentânea com esta realidade que emerge de um mundo cada vez mais global e que nós portugueses, outras razões não houvessem para justificar o que escrevo, aceitámos quando ratificámos através de sufrágio a nossa adesão à Comunidade Europeia, para o bem e para o mal, na qual se consigna a abolição das fronteiras e a consequente livre circulação de pessoas e bens.
Incomoda-me a nossa curta memória que nos impossibilita de recuar à década de 60 e 70 que foi marcada por um êxodo inexorável, cujo abrandamento só se veio a verificar na década de 80, tendo a emigração caído para os valores mais baixos desde então. Este facto ficou a dever-se a um progresso que se registava, mas que foi sol de pouca dura e inverteu esta tendência, motivando que a partir da década de 90 se começasse a assistir a um crescendo de emigrações, a que já estávamos habituados, e a um fluxo imigratório que consistiu numa novidade para nós, mais acostumados a servir do que a ser servidos.
No passado ano verificou-se uma duplicação de residentes que abandonaram o país; qualquer coisa como 27 milhares contra os treze de 2006, atingindo um aumento na ordem dos 111%. A crise na economia impulsiona a que muitos portugueses procurem países com um crescimento superior ao de Portugal e onde escasseie a mão-de-obra com alguma qualificação, sendo os países preferenciais; - Espanha, Luxemburgo, Suiça, Bélgica e Alemanha, sendo os outros países de eleição dos portugueses, França, Reino Unido, Andorra e Angola, tendo sido estimado que neste ultimo se encontravam em Julho passado mais de 60.000. Da mesma forma os imigrantes, na sua maioria provenientes do Brasil, Leste Europeu e Cabo Verde aportam a Portugal e as outros países da Europa, com as mesmas expectativas que a nós nos leva a partir; melhorar as condições de vida que lhes são sonegadas pelos seus países de origem.
Poderia deter-me por longo tempo, socorrendo-me de um manancial de dados estatísticos do I.N.E. Instituto Nacional de Estatística), Eurostat (Organismo de estatística europeu) e da O.C.D.E. (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) e demonstrar o que representa esta balança entre os que entram e saem e as suas motivações socio-económicas e mesmo politicas. Mas o que pretendo é demonstrar algo mais do que este afã transfronteiriço e transcontinental, quando ele ultrapassa as raias da normalidade e se traduz no “import/export” dos piores de todos nós, que existem em todos os cantos do mundo, que não é crível estancar e cujo controlo não é fácil.
Em todos povos existe gente boa e má, naturalmente, e admito e preconizo que o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e todas as suas congéneres doutros países tenham o maior rigor na vigilância das entradas, na analise e subsequente concessão de autorizações de estadia.
Incomoda-me e incomoda-me seriamente que os portugueses quando cometem um delito, a comunicação social se refira a que “um homem de 40 anos, assaltou….”, E mudem de estilo quando se trata de estrangeiros, passando estes a ser simplesmente africanos, brasileiros ou ucranianos, como se estes não sejam homens e os delitos tenham outro cariz, cometendo assim uma das piores formas de descriminação, que é feita em função da origem étnica.
Devo recordar que segundo o Instituto Europeu para a Prevenção e Controlo do Crime (SECP), cerca de 1.800 portugueses se encontram detidos em cadeias de 46 países (só no Brasil são 84) o que bem demonstra que lá fora também temos o nosso pior escol criminal. Mas se é totalmente incongruente que por esta razão, a que não ouso chamar simples, todos portugueses que se encontram além fronteiras fossem tomados pela mesma bitola, com consequências morais e físicas que daí poderiam advir, não deixa de ser menos preocupante o vício que se está apossando de nós, com o grave risco de se tornar endémico, olhando de soslaio a todos os que não tenham nascido no luso berço.
Incomoda-me, ainda que compreenda as preocupações do cidadão comum, que este seja intoxicado pelas mais sombrias posições xenófobas que por aí grassam, eivada de ódio por uns quantos mentecaptos e marginais, que servem intencionalmente fins menos confessos e que nunca serão capazes de distinguir uma ARVORE, DA FLORESTA.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quero parabenizá-lo pelo artigo. Que este sirva de reflexão a todos aqueles que, de maneira discriminatória e irresponsável, têm culpado os imigrantes, de todas as mazelas sociais de Portugal.

teste disse...

Tenho visto de tudo mas um blog cujo autor censura os comen tarios não imaginaria. É que em minha opinião das duas uma. Ou os comentários são livres os se blo queiam de todo.
Quanto à emigração será bom lembrar, desde logo, que não é comparável a emigração protuguesa com a imigração que neste momento assalta Portugal.
Desde logo porque não houve entre os protugueses quem tirasse o sono e a tranquilidade aos natu rais dos países para onde emigrá mos.
Depois emigrámos para países onde havia falta de mão de obra o que não se verifica em Portugal. E também porque para alegar a exis tência de imigrantes bem compor tados para não referir os crimino sos é uma forma de desproteger os honestos e trabalhadores ao con trário do que se pode pensar. Aliás cabe aqui perguntar se não atentamos no conceito generico de que gozam as brasileiras por causa da prostituição e, até hoje, nin guém saiu em defesa da maioria honrada e séria. Porquê virem agora defender os criminosos. Es ses, nem os compatriotas honestos devem defender. O próprio embai xador do Brasil presta um pessimo serviço à sua comunidade aqui residente com as declarações que proferiu.
E cabe aqui perguntar ao autor do blog por que não compara a atitude dos angolanos, moçambica nos, guineenses ou sul africanos
para com os portugueses que vivem e trabalham nos seus paises. Viram algum africano aqui ou brasileiro residente em Portugal reclamar contra a mortandade de que têm sido vitimas os portugueses na África do Sul? Viram algum dizer que iriam exigir do seu governo que trate lá os portugueses como querem ser tratados cá? Não!
Não sabe o autor do blog que tudo tem que ser recíproco e também aqui tal postura deve existir. É que quem não dá não pode pedir e muito menos exigir.
Termino perguntando onde e quan do fomos nós chamados a ratificar em referendo a adesão de Protugal à União Europeia. Esta afirmação é grave de mais para constar aqui como verdade não sendo. Por isso deve ser corrigida por quem a proferiu.
Faça favor de me censurar o comentário. Em troca e como prémio indico-lhe o meu blog para comen tar livremente o que eu escrevo.
rightfightforjustice.blogspot.com

Com os meus cumprimentos.

Vitorino Batalim

PS- Deve pedir a toda a gente que assine. A assinatura é dar a cara, é ser responsável e responsabilizá
vel.