
Mais não se pode esperar de José Eduardo dos Santos, ainda que este tenha dito, nas suas intervenções da campanha que Angola é de todos os angolanos e que serão afastados do centro do poder todos aqueles que defendem interesses pessoais e particulares. Este tipo de declarações já não convence quase ninguém, mas terá inevitavelmente o seu efeito perverso numa franja considerável de eleitores que pela sua iliteracia e medo votarão, favorecendo o partido que governa há 33 anos.
Dos Santos é um dos homens mais ricos do mundo e o seu povo um dos mais pobres, ainda que o crescimento do PIB se tenha aproximado dos 20% em 2007.
Como se pode acreditar em Dos Santos quando se sabe como tão bem distribui o poder pelos seus familiares; a sua filha Isabel dos Santos é detentora de uma fortuna considerável …sabe-se que controla uma boa parte de acções da P.T., que é dona da empresa “Urbana 2000” que tem um contrato de leão no valor de 10 milhões de dólares anuais para fazer a limpeza e o saneamento da cidade de Luanda. Detém 25% do B.I.C. – Banco Internacional de Crédito, a empresa de telemóveis “Unitel”, uma empresa de móveis em Portugal, empresas ligadas à exploração de diamantes e à hotelaria, tanto em Angola como em Portugal…De onde surge este portentoso poder económico?
Não se acredita que Dos Santos alguma vez mexa nos enormes privilégios que concede à família, aos seus generais, aos altos quadros do partido e a outros seus apaniguados.
Falta quase tudo em Angola e a vida de luxo na sua capital, uma cidade de altos contrastes sociais, é apanágio de alguns a quem nada falta; lojas de reputadas marcas internacionais, só permitidas a uma elite que tem um elevado poder de compra; restaurantes e discotecas de elevado luxo e carros de ultima geração. Em contrapartida, num universo de 16 milhões de habitantes, 68% da população vive abaixo do limiar da pobreza, sendo 2 dólares por dia o que ganham mais de dois terços da população, atingindo o desemprego uma taxa de 40%; os bairros degradados são autênticas colmeias e a esperança media de vida está nos 42 anos e a mortalidade infantil é das piores do Mundo, morrendo antes dos cincos anos cerca de um quarto das crianças. E é preciso lembrar que Angola é presentemente o maior produtor de petróleo em África.
Luanda tem crescido e vai continuar a crescer como um importante centro de negócios, empurrando os pobres para a periferia, com o fito da construção de condomínios privados.
Só me pergunto: Onde foram parar os ideais que impulsionaram os povos de Angola à luta armada contra o colonialismo? E que fizeram os governos do M.P.L.A., no poder há 33 anos, para emancipar esses mesmos povos, congregando-os numa nação una, proporcionando-lhe condições dignas de vida, económica e social?
Nada se pode esperar de quem andou na mata a combater e chegado ao poder subverte toda a esperança de um povo, tornando-se o seu algoz.
Um destes dias saberemos quem vai governar e daqui a mais uns anos veremos quais as reais transformações operadas e se elas beneficiaram os descamisados daquele que pode ser um grande país. Eu, por mim, continuo a não acreditar!
2 comentários:
olá Joaquim.
Acabei de ler o teu artigo sobre Angola. Para além de estar muito bem escrito (na minha modesta opinião) vem-nos fazer estemecer corpo e alma, principalmente pela esperança que(os como nós)do antes e após 25 de Abril tanto acreditámos no MPLA. É duro vermos como tantos ideais morreram e no que se transformaram.
Parabens, está um belo artigo.
Um beijinho
Liliana Josué
"... até ao fecho das urnas e até à apresentação dos resultados, vamos dar um grande exemplo ao mundo, não só de civismo mas também de participação democrática" disse Santos sobre o andamento da eleição. Isso me soa irônico, vindo de alguém que quer se perpetuar no poder. O MPLA usou os lucros derivados do petróleo, que alimentam o governo, para bancar sua campanha eleitoral, dominando a mídia. Sim, esse senhor vai vencer em 2009 e continuar lá, esbaldando-se a custa do sofrimento do povo e tudo será como dantes, infelizmente.
Enviar um comentário