sábado, 13 de dezembro de 2008

SERÃO OS PORTUGUESES DE ESQUERDA?

Li no “Diário de Noticias” de ontem um artigo de opinião da autoria de Pedro Lomba, jurista, titulado: “Porque são os portugueses de esquerda?” e não resisto a emitir uma opinião sobre esta questão, dado que não me regulo pelo mesmo diapasão.
Diz o articulista que “toda a gente quer perceber porque é que a maioria dos portugueses é de esquerda. Ou: porque é que segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a “virar” à esquerda, pronta para sem um embaraço ou uma indecisão ir depositar o seu voto em Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã?”.
Não me quer parecer, de todo, que esta seja uma realidade porque ela depende, inevitavelmente, do que se considera por esquerda: - Não detendo eu a opinião que o PS seja no presente um partido de esquerda, mercê da viragem e das políticas de centro-direita que Sócrates tem implementado, governando manifestamente no sentido inverso dos interesses do povo e do interesse nacional, gozando de uma maioria que lhe foi oferecida de bandeja em 2005, e não porque o voto tivesse tido o sentido literal de que os portugueses são de esquerda por natureza. Outrossim esteve subjacente a essa vitória do PS, que residiu na vontade de mudança, fosse ela qual fosse, por tão agastados com as politicas praticadas até então e em que a palavra de ordem foi sempre a mesma: - Apertar o cinto!
Sendo o PSD um partido de direita mais ou menos moderada, que perdeu totalmente o norte, evidenciando uma incapacidade de poder ser alternativa ao PS, parece que ninguém acredita hoje que o mesmo possa fazer-lhe frente, porque os desvarios de Manuela Ferreira Leite têm sido excessivos, comprometendo uma oposição que se necessitava eficaz e musculada.
O CDS é um partido de extrema-direita com imensas clivagens e, ainda que interventivo na Assembleia da Republica, tem a sua base de apoio muito especifica o que o alija de alguma vez poder vir a ser governo (salvo eventuais alianças, as quais o PS parece não enjeitar, preferindo esta a qualquer outra).
O PCP é um partido que arrogando-se de esquerda, embora respeitando eu todo o seu passado, não se modernizou, mantendo obstinadamente posições irredutíveis que não se coadunam com aquilo que deveriam ser as estratégias para as novas realidades globais, e tem sangrado do seu seio muitos militantes que tanto deram ao partido mas que hoje não se conseguem rever nele.
Resta o Bloco de Esquerda: Um partido pequeno, na verdade, acusado de ser uma miscelânea de ideais, o que até admito que seja, mas sendo aquele que mais próximo se encontra e que mais se identifica com uma franja considerável de portugueses que vivem verdadeiramente constrangidos, não só com e por esta crise, mas desde há muito tempo, com toda a amalgama que tem representado sempre este “fartar vilania” a que temos sido forçados anos a fio, governo após governo, de verdadeiro compadrio, protecção, impunidade e conluio, estando desvanecida a classe média e parecendo este país, cada vez mais, um país da América Latina, com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobre.
Diz ainda o cronista, que «não há muito tempo que estudos de opinião situavam o português médio no centro esquerda. Faziam um retrato conservador daquilo que somos em política: moderados, compromissórios, mas levemente inclinados para a esquerda» e defende uma teoria inverosímil que é a de que «os portugueses tendem para a esquerda não por causa de teorias. Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos», acrescentando que «as convicções políticas de quase todos nós dependem de sermos mal pagos» e convida o leitor a fazer um esforço que o leve a concluir «quantas pessoas bem pagas conhece a dizerem que são de esquerda, ou que votam à esquerda?». Afirma conhecer poucas e, essas, enfia-as em três excepções: «os bem pensantes, os “intelectuais” e os que nunca se libertaram do trauma de terem passado um dia pela experiência de serem mal pagos».
Quanto a mim esta opinião peca pela sua irrealidade. Poderia, e até faria sentido, que quem realmente ganha mal, tendencialmente, fosse de esquerda, ainda que fosse só por essa razão. – Mas não é assim: existem muitos portugueses que, embora vivam numa situação económica débil, continuam a votar à direita por razões de iletrismo, condicionados muitas as vezes pelo meio onde vivem, onde a igreja e os “abastados” exercem uma grande influência, com maior relevância nos meios rurais. Depois, e contrariando a visão de Pedro Lomba, não acredito na dicotomia de que «muito do confronto esquerda-direita na politica» seja «na verdade entre pessoas mal pagas e bem pagas». A questão é bem mais profunda e se ele acha que» as pessoas bem pagas adquirem um interesse egoísta, um poder que só o dinheiro confere», eu corroboro, mas acrescento: este povo ao qual tanto mal se tem feito e que antes do 25 de Abril tanto sofreu, teve uma centelha de esperança após essa data e o que tem acontecido no período decorrente, é que a rapacidade tem sido tanta e o capitalismo não deixou de ser mais feroz do que antes, com a agravante de terem desabrochado uma enormidade de novos-ricos, cujas fortunas foram conseguidas ninguém sabe como, sem que nenhum governo nem nenhum outro poder, tivesse capacidade ou quisesse investigar, punindo exemplarmente.
E pese embora opiniões diferentes, a luta de classes está na ordem do dia, sem que necessariamente seja inevitável trazer Marx para a ribalta, mas o que não se pode escamotear de o que se trata efectivamente é da luta pela quebra das tremendas assimetrias existentes entre pobres e ricos, de exigir dos governos uma politica de protecção e desenvolvimento das classes mais desfavorecidas, do desenvolvimento económico e social do país, sem estas poucas vergonhas a que se assistem amiúde, da protecção do grande capital e da banca, depauperando cada vez mais este povo e este país.
Oxalá tivesse o articulista razão e este povo virasse mesmo à esquerda, o que representaria que não se deixaria mais uma vez enganar pelo partido do governo, que de socialista só lhe resta o nome e Sócrates é, detenho para mim, o pior de todos os primeiros-ministros, (excluindo desta análise, óbviamente, Santana Lopes) porque a acrescer a tudo em que defraudou o seu eleitorado, adulterando o seu programa eleitoral, tem tido uma posição autista, arrogante, chegando, nalguns casos, a atingir as raias do inacreditável.
A crise existe, está aí e, parece, que para lavar e durar. E não pode resguardar-se este governo de que a culpa é externa. É-o também, de facto, mas muito do que nos está a acontecer tem a ver com todo o regabofe de 33 anos, tempo em que não foram capazes de desenvolver sustentadamente a economia de Portugal, provocando que hoje o impacto fosse menor.
O país está em recessão como tantos outros, mas nós somos os mais pobrezinhos da Europa, os mais desprotegidos, os mais sobrecarregados e sem que se veja a aplicação de medidas concretas para minimizar este descalabro.
E acho graça quando Pedro Lomba diz: «não é uma luta por mais ou menos igualdade. Ninguém quer ser igual a ninguém. Mas todos queremos ser bem pagos. Só vejo uma maneira de acabar com o Bloco» de Esquerda «é subir os salários».
A exigência da subida dos salários é impreterível e deve materializar-se, mas muitas necessidades e outros direitos dos portugueses não se esgota na dignificação dos seus vencimentos. Mais e melhor saúde, educação e justiça devem ser objectivos imediatos e, para que tudo isto possa estar para além da esperança, é preciso dizer “não” aos maus políticos.

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