terça-feira, 8 de junho de 2010

Cidadãos europeus, Uni-vos!



Os dados estão lançados, o jogo é claro e quanto mais tarde identificarmos as novas regras mais elevado será o custo para os cidadãos europeus. A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os actores sociais estão perplexos e paralisados. Enquanto prática política, a luta de classes entre o trabalho e o capital nasceu na Europa e, depois de muitos anos de confrontação violenta, foi na Europa que ela foi travada com mais equilíbrio e onde deu frutos mais auspiciosos. Os adversários verificaram que a institucionalização da luta seria mutuamente vantajosa: o capital consentiria em altos níveis de tributação e de intervenção do Estado em troca de não ver a sua prosperidade ameaçada; os trabalhadores conquistariam importantes direitos sociais em troca de desistirem de uma alternativa socialista.
Assim surgiram a concertação social e seus mais invejáveis resultados: altos níveis de competitividade indexados a altos níveis de protecção social; o modelo social europeu e o Estado Providência; a possibilidade, sem precedentes na história, de os trabalhadores e suas famílias poderem fazer planos de futuro a médio prazo (educação dos filhos, compra de casa); a paz social; o continente com os mais baixos níveis de desigualdade social.
Todo este sistema está à beira do colapso e os resultados são imprevisíveis. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra: o acumulo histórico das lutas sociais, de tantas e tão laboriosas negociações e de equilíbrios tão duramente obtidos, é lançado por terra com inaudita arrogância e a Espanha é mandada recuar décadas na sua história: reduzir drasticamente os salários, destruir o sistema de pensões, eliminar direitos laborais (facilitar despedimentos, reduzir indemnizações).
A mesma receita será imposta a Portugal, como já foi à Grécia, e a outros países da Europa, muito para além da Europa do Sul. A Europa está a ser vítima de uma OPA por parte do FMI, cozinhada pelos neoliberais que dominam a União Europeia, de Merkel a Barroso, escondidos atrás do FMI para não pagarem os custos políticos da devastação social.
O senso comum neoliberal diz-nos que a culpa é da crise, que vivemos acima das nossas posses e que não há dinheiro para tanto bem-estar. Mas qualquer cidadão comum entende isto: se a FAO calcula que 30 mil milhões de dólares seriam suficientes para resolver o problema da fome no mundo e os governos insistem em dizer que não há dinheiro para isso, como se explica que, de repente, tenham surgido 900 mil milhões para salvar o sistema financeiro europeu? A luta de classes está a voltar sob uma nova forma mas com a violência de há cem anos: desta vez, é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho.
O que fazer? Haverá resistência mas esta, para ser eficaz, tem de ter em conta dois factos novos. Primeiro, a fragmentação do trabalho e a sociedade de consumo ditaram a crise dos sindicatos. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores. A resistência terá nos sindicatos um pilar mas ele será bem frágil se a luta não for partilhada em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia.A crise atinge todos porque todos são trabalhadores.
Segundo, não há economias nacionais na Europa e, por isso, a resistência ou é europeia ou não existe. As lutas nacionais serão um alvo fácil dos que clamam pela governabilidade ao mesmo tempo que desgovernam. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular do capital financeiro ou o futuro é o fascismo e terá que ser combatido por todos os meios.
(Texto de Boaventura Sousa Santos, publicado na revista Visão de 2 de Junho)

sábado, 5 de junho de 2010

Obama acha que é prematuro condenar Israel


Nem com Obama, que nunca excedeu as minhas expectativas, os EUA mudaram a sua politica internacional de sempre: - Os USA são o que são na sua sempre insistente supremacia bélica, mas subservientes, q.b,. em relação a Israel. Mas não o responsabilizemos isoladamente, porque a grande culpa da vergonha do que se passa na faixa de Gaza é colectiva; - é de todos os países ditos civilizados e democráticos, que não passam de verdadeiros fantoches, com contestações de circunstância e da ONU, cuja assembleia está controlada pelos senhores do mundo e não tem poder efectivo para o controle dos conflitos, pervertendo o objectivo da sua criação.

Mais um "drible" de José Sócrates


Todos nós temos necessidade de acreditar numa boa prestação da Selecção no mundial. Bolas,ao fim e ao cabo, entre tantas tormentas que vivemos, não nos encheria a barriga mas preeenchia-nos o ego. Mas aconselho os jogadores a um desempenho com "raiva" como se dessa postura o país pudesse dar uma reviravolta porque, sendo o mundial, também, uma montra para a transacção de jogadores, o 1º Ministro está com um olho no burro e outro no cigano: Atento e necessitado que Portugal exporte mais, cada jogador representará uma importante entrada de divisas. Força malta, ajudem o país a sair da crise!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

OPERETA DO MALANDRO


Noticia hoje, o Diário de Noticias, que pelos melhores e piores motivos, a passagem de José Sócrates pelo Rio de Janeiro foi uma verdadeira aventura. E foi, claro que foi, mas as passagens do, ainda primeiro-ministro, não são só uma aventura no Brasil; são em todo e qualquer ponto do globo, sendo que em Portugal, mais do que isso, são mesmo uma desventura.
Segundo um velho ditado que, quem faz um cesto faz um cento, e que se encaixa perfeitamente nas tibiezas, de aparente e constante mentira, a que nos temos vindo a habituar, impávidos e serenos, por parte de Sócrates e do seu (ainda governo), aceitando o compulsivo e reiterado hábito de ocultação da verdade como se fossemos uma cambada de bimbos, o que infelizmente até somos, escamoteando toda a perversão que dimana de quem, e bem, nos deveria governar, “lá vamos cantando e rindo” como se o futuro do país; o nosso, dos nossos filhos e dos nossos netos, tenha a mesma importância de um mero jogo de botão.
Chico Buarque confessa que jamais dirigiu um convite a José Sócrates e que tal encontro se ficou a dever a um pedido do gabinete de Lula da Silva, a pedido de Sócrates.
Fazendo fé no desmentido de Chico, que apesar de ser o autor da Ópera do Malandro, não me parece sê-lo, tudo me leva a crer que aquele café tomado em Ipanema não tenha passado de uma sublimação de Sócrates, sem custos para o erário publico nem para nenhuma empresa publica (estou-me só a recordar de Luís Figo). Até porque acredito piamente que Buarque não se prestasse a uma encenação deste tipo.