terça-feira, 27 de outubro de 2009

O TENENTE-CORONEL PILOTO-AVIADOR, BRANDÃO FERREIRA CONTINUA AGARRADO AO PASSADO

Já tenho ouvido muitos disparates proferidos por este “herói” Nacional que nem sequer pôs os pés na Guerra Colonial e, tudo quando debita emerge do facto de ter sido um oficial de carreira que viveu aquele período conturbado da história de Portugal sentado nos estados-maiores a engendrar estratégias para serem aplicadas no terreno onde, por consequência das mesmas, morreram e ficaram estropiados, física e psicologicamente, em quase duas décadas de conflito, um número considerável da nossa juventude (decénios 60/70). Felizmente que para “tranquilidade” da nação, essas gerações, muitos deles, intervenientes forçados nessa guerra sem sentido, estão cada vez mais próximas do fim, permitindo o aliviar das consciências dos senhores da guerra, dos políticos do passado e, mais grave, dos políticos do presente, onde se inclui Brandão Ferreira, não lhes tendo ouvido nunca um elogio, ainda que não lhe desse qualquer importância, aos anónimos que constituíram os muitos contingentes militares enviados para as colónias, que foram o suporte inconsciente do regime até Abril de 1974.
Curiosamente, não tendo Brandão Ferreira combatido naquela guerra de má memória, continua a defender no seu livro “Pátria, um Portugal do Minho a Timor) valores anquilosados, sem abordar com coragem e inteligência, uma questão de subido interesse nacional à época, que vem desenterrar agora, com um argumento moribundo de que os portugueses perderam «liberdade estratégica» e ficaram «enfraquecidos e divididos como comunidade», transparecendo desta sua intencional afirmação que, volvidos muitos anos, ainda não entendeu os ventos da história, numa transmutação constante e inevitável. Liberdade, a nossa, a do povo não existia, o que quer dizer que essa liberdade estratégica a que se refere só existia no seio de uma elite que tudo tinha e tudo decidia. E, hoje, volvidos 35 anos, a liberdade estratégica não se perdeu, ao contrário do que afirma, porque ela se mantém bem viva para as elites; outras, na verdade, mas elites, sendo uma realidade que estamos mais enfraquecidos e divididos como comunidade, não por termos entendido a inevitabilidade da liberdade dos povos africanos que então dominávamos, mas fundamentalmente porque não temos tido políticos à altura de fazer florescer este país, redimensionando-o e engrandecendo-o, aproveitando todas as potencialidades ao nosso alcance. Hoje, como ontem, somos um país agarrado ao passado e à sua história, não tendo capacidade para extrair dela os ensinamentos que a mesma nos proporciona, dissecá-la e aproveitar o seu melhor em prol do desenvolvimento.
Brandão Ferreira opina que «Portugal fez uma guerra justa e, além disso, tinha toda a razão do seu lado». Só que aquilo que considera justa e plena de razão é, quanto muito uma opinião pessoal, infelizmente partilhada por uns quantos militares profissionais, seguidores exacerbados de uma política ultramarina cega e fora do tempo, pelos grandes interesses económicos instalados e, compreensivelmente para mim, por uns milhares de portugueses que foram espoliados e que demandaram terras africanas na expectativa de uma melhoria de vida que a metrópole lhes não oferecia e que, também eles, foram vítimas do sistema.
Afirma, em defesa da justeza da Guerra Colonial: «Por aquilo que é secundário, negocia-se; pelo que é importante, combate-se; pelo que é fundamental, morre-se».
E eu contraponho achando: que com aquilo que é secundário, não se perde tempo; pelo que é importante negocia-se; pelo que é fundamental, combate-se. Mas e sempre através do diálogo e nunca dentro do contexto que preconiza o Sr. Tenente-coronel, porque a sua visão é bélica e, talvez por essa aberração de Salazar e do seu séquito militar, para os quais África sempre foi assunto tabu e a pátria não se discutia, que a situação chegou a um patamar que não permitia outra saída.
Apostava a minha vida que Brandão Ferreira nunca provou uma ração de combate (a menos que o tenha feito na messe de oficiais, por mera curiosidade, antes de lhe servirem caviar). Sabe lá Brandão Ferreira o que é uma “marmita” ou uma “bailarina” (mina anti-carro e mina anti-pessoal), a não ser através dos filmes a que naturalmente assistiu no conforto das reuniões dos “cabecinhas de ouro”. Sabe lá Brandão Ferreira o que era estar 24 meses na mata, o que é ver morrer miúdos de 20 anos todos os dias, em suma, o que é sofrer as agruras de uma guerra sem solução.
No entender do autor, impõe-se «conseguir um conjunto elaborado de conhecimento que permita que a nação portuguesa caminhe para um futuro assente em bases sólidas e verdadeiras e não sobre falsos postulados». E, sobre isto, não posso estar mais de acordo. Portugal tem mesmo, com a maior urgência, de caminhar nesse sentido; - com políticas objectivas, com políticos cuja eloquência não seja a das palavras bacocas e a do compadrio mas a de servir o país; uma justiça “justa” e célere, a erradicação da pobreza, traduzida numa partilha mais equilibrada da riqueza, a procura constante de uma luta sem quartel que possa conduzir a que Portugal não seja, cada vez mais, o país dos pequeninos (quanto mais aumentam os pequeninos, maiores vão sendo os grandes) e que trilhe o caminho do desenvolvimento para o bem-estar comum, tendo a capacidade, que nasce sempre do exemplo, de mobilizar toda a nação nesse empreendimento, sem complexos da sua dimensão nem da perda do seu império. O Passado já foi, o presente está aí e é péssimo e o futuro é não perder tempo a falar do que se perdeu ou do que se poderia ter ganho. Falar do futuro é projectar e agir em conformidade com o queremos ser amanhã. Já perdemos muito tempo e há que arrepiar caminho isso, sim, A BEM DA NAÇÃO!

2 comentários:

Anónimo disse...

Esse senhor que vá pastar caracóis que é aquilo que ele merece.O senhor no seu texto já disse tudo!
está tudo percebido...

Anónimo disse...

Os meus parabens ao autor pela clarividência como soube abordar esta aberração.
Seja-me permitida só uma pequena rectificação. O autor do tal livro, na altura do 25 de Abril ainda não estaria nos estados maiores. Parece que ainda andaria a estudar, portanto ainda muito antes dos altos estudos, talvez, quem sabe, ainda nos estudos por alto. Portanto, da guerra que agora defende, apesar de não ter idade na altura para nela participar, mesmo assim podia lá ter ido fazer uma perninha se tivesse tido a coragem de ter oferecido como voluntário. m
Mas afinal, não tendo lá ido, fala do que ouviu dizer e só terá ouvido uma das partes.
Certamente terá ouvido alguns daqueles que em cada comissão que faziam no ar condicionado, chegavam cá e compravam mais um apartamento na Linha, na Costa, no Castelo, na Figueira, no Algarve ou em qualquer outro sitio de bom rendimento.
Mas nunca terá falado com algum dos muitos milhares que deram o coirão ao manifesto, que passaram fome, que choraram muitas lágrimas e que verteram muito do seu sangue em terras africanas. E pior ainda, mas aqui uma certeza absoluta, nunca falou com nenhum dos muitos milhares que perderam a vida naquelas terras sangrentas.
Claro que o dito autor tem todo o direito em ter as opiniões que quiser porque apesar de tudo, o sistema em que vivemos permite tudo isso. Ao contrário, o sistema que ele defende é que não nos permitia, não permitiu mesmo nos tais 48 anos de obscurantismo, que outras pessoas tivessem opiniões diferentes. Por isso o Aljube, Caxias, Peniche, o Tarrafal e tantos outros locais bem conhecidos, a começar pela António Maria Cardoso, que estavam sempre com a lotação esgotada mas onde cabiam sempre mais alguns.
Não sei se o senhor comunga da mesma opinião, mas a guerra durou, segundo a minha análise, enquanto só morriam soldados e outros milicianos. Quando o pessoal do quadro também começou a morrer, a coisa já durou pouco tempo. Porque terá sido?
E pensavam os ex-combatentes que o seu esforço um dia seria reconhecido e recompensado sem as ofenas de que andam a ser alvo? Desenganem-se. Com personagens destas já temos os reconhecimentos feitos.